Chart of the Week | Anonymous fragment at Torre do Tombo, 1492-1508
Author | Autor Unknown
Date | Data after 1492 - before 1508
Country | País Unknown, possibly Portugal
Archive | Arquivo Lisbon, Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Call number | Número de Catálogo Fragmentos, cx. 20, n.º 7
Dimensions | Dimensões 280 × 290 mm
Fragments of nautical charts are exciting historical items that test researchers’ abilities to reconstruct their origins, using what information remains visible to deduce what is now absent. Although a perennial challenge to interpretation, even these mutilated documents can yield important insights into the history of map making and use. At the same time, every newly found fragment offers fresh hope for the discovery of yet more cartographic material hidden in the covers of books, or binding parcels of documents.
This unsigned square-shaped parchment kept in Lisbon once depicted the normal portolan chart area. Now it shows only the western part of the Mediterranean, including a segment of the Adriatic, a portion of the coast of Algeria and Tunisia, a small part of the Atlantic off the coast of France, and almost all the Gulf of Biscay.
Sometimes, depending on the condition of the fragment, the most useful strategy for revealing its origins is to pinpoint either signed, or more intact, charts with which they appear to have a relationship. Fortunately, this fragment presents conspicuous similarities with an anonymous Portuguese portolan chart of about 1508 kept in Dijon. This is evident, for example, in the drawing of Genoa, Venice, and Avignon, and in the flag of the Spanish Catholic monarchs over Granada. Only one wind rose design is identifiable in the fragment, and it bears a pattern akin to that of the Dijon chart.
Taking the toponomy of the coast between Marseille and Rome as a representative sample, we may observe that the positioning, handwriting, and spelling of place names is analogous. This strongly suggests a similar list of place names was used to produce both charts.
From the comparison of both charts, differences also emerge. The Dijon chart, for instance, includes crosses in North Africa (specifically, near Peñón de Velez de la Gomera and Oran) and a crossbow near Bougie, representing Spanish conquests (1508-1510). This fragment, however, has no sign of such crosses. Their absence may mean the fragment formed part of a chart produced before the Dijon chart. However, if we assume the crosses on the Dijon chart were a later addition, conclusions concerning the production date of the fragment remain elusive. The fragment includes heraldry not present in the Dijon chart, such as the escutcheon of the House of Aragon drawn in Sardinia and Sicily. Also, unlike the Dijon chart, the fragment shows no inland waterways. Finally, some parts of the coast exhibit minor drawing differences, as can be seen in the Low Countries.
A cartometric comparison of the fragment and the Dijon chart showed a good match between the geometries of both coastlines. This finding lends even more weight to the hypothesis the Dijon and this fragment shared a geographical model. In the case of these two works, we may be in the presence of a common author, a common workshop or, to say the least, the use of common data sources.
Versão Portuguesa
Os fragmentos de cartas de navegar são fontes históricas fascinantes, que mobilizam os investigadores na reconstrução das suas origens, através de informações que permanecem visíveis para deduzir o que está ausente. Embora a sua interpretação seja desafiante, mesmo esses documentos excisados podem fornecer informações importantes sobre a história da construção e do uso de mapas. Ao mesmo tempo, cada fragmento encontrado alimenta a esperança da descoberta de mais material cartográfico, escondido nas capas dos livros ou envolvendo documentos avulso.
O presente pergaminho de forma quadrada, não assinado e arquivado em Lisboa, é o que resta do que outrora foi uma carta portulano. No que sobeja, vê-se a parte ocidental do Mediterrâneo, incluindo uma secção do Adriático, uma parte da costa da Argélia e da Tunísia, uma pequena fracção do Atlântico ao largo da costa de França e quase todo o Golfo da Biscaia.
Por vezes, dependendo do estado em que se encontra o fragmento, a estratégia mais vantajosa para revelar as suas origens é identificar outras cartas assinadas, ou em melhores condições e conservação, com as quais se possa estabelecer uma relação. Felizmente, este fragmento apresenta assinaláveis semelhanças com uma carta portulano anónima portuguesa feita em torno de 1508, arquivada em Dijon. Isso fica patente, por exemplo, no desenho de Génova, Veneza, Avinhão, e na bandeira dos Reis Católicos sobre Granada. Somente uma rosa-dos-ventos é identificável no fragmento, apresentando um desenho semelhante a um dos modelos na carta de Dijon.
Ao analisar, a título de exemplo, a secção de costa entre Marselha e Roma, podemos observar que o posicionamento, a caligrafia e a grafia dos topónimos são análogos. Isto é um forte indício de que pode ter sido usada uma lista de nomes de lugares semelhante para as duas cartas portulano.
A comparação das duas cartas também revela diferenças. A carta de Dijon, por exemplo, inclui o desenho de cruzes no norte da África (especificamente, perto do Ilhéu de Vélez de la Gomera e Orão) e uma besta perto de Bugia, representando conquistas espanholas (1508-1510). Por outro lado, o fragmento não apresenta esses desenhos. Esta ausência pode sugerir que este fragmento fazia parte de uma carta produzida antes da carta de Dijon. No entanto, se assumirmos que as cruzes na carta de Dijon foram desenhadas após sua construção, não será tão imediato concluir sobre a data de produção do pergaminho de Lisboa. O fragmento também inclui armaria que não está presente na carta de Dijon como, por exemplo, o escudo da Casa de Aragão desenhado na Sardenha e na Sicília. Além disso, ao contrário da carta de Dijon, o fragmento não mostra cursos de água no interior do continente. Por fim, algumas partes da costa apresentam pequenas diferenças de desenho, como pode ser constatado na zona dos Países Baixos.
A comparação cartométrica entre o fragmento e a carta de Dijon mostrou um bom ajuste entre as geometrias das costas. Esta descoberta deu ainda mais peso à hipótese de que a carta de Dijon e este fragmento terão sido feitos usando um modelo geográfico comum. Ou seja, podemos estar na presença de um autor comum, de uma oficina comum ou, pelo menos, do uso dados comuns.
Further reading | Leitura complementar
Cortesão A., & Teixeira da Mota, A. (1960). Portugaliae Monumenta Cartographica, Vol. 1. Lisboa: Comissão para a Comemoração do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique [facsimile edition], 5.
Almeida, B. (2021). “Famous charts and forgotten fragments: exploring correlations in early Portuguese nautical cartography”, International Journal of Cartography, 7, 38-59.
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